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MOTIM RECORDS: SELO É RESULTADO DA INDEPENDÊNCIA ARTÍSTICA DO GUITARRISTA GUI TRENTO

 

Por Samuel Garbuio | 24/04/15 | Valinhos

 

 

 

 

O selo independente Motim Records surgiu em fevereiro de 2014, pelas mãos de Gui Trento, guitarrista da banda Meivorts e editor/publisher de um zine que mistura design, literatura e fotografia, chamado Erro404. Fomos conhecer de perto o trabalho desse cara, que tinha muita coisa legal para nos contar. A entrevista na íntegra você confere a seguir.

 

 

CriaSom: Como surgiu a Motim Records e como funciona um selo independente?

Gui Trento: Devo confessar que me inspirei nos selos independentes americanos, onde os músicos se organizavam para lançar seu próprio disco ou o disco dos amigos, então eram bandas lançando seu próprio material: a Epitaph Records (criada pelo Brett Gurewitz para lançar os discos de sua banda, o Bad Religion) e a Dischord Records (criado por Ian Mackaye, para lançar os discos do Teen Idles e do Minor Threat). Sem o apoio de uma gravadora ou um grande parceiro de mídia, a banda que está iniciando nem sabe por onde começar. Como fazer a arte do disco? qual o melhor formato? Como distribuir? Como vender

digitalmente nossas músicas? A idéia da Motim Records é ajudar as bandas independentes a divulgarem seu material de uma maneira profissional: cuidamos de toda a comunicação visual, que vai desde a criação de logotipo e identidade visual da banda, passando por cartazes e linguagem editorial para posts nas mídias sociais. Além disso, oferecemos um serviço de design para criação de artes para capas de CD e LP, encartes, diagramação, etc. E o mais importante: a distribuição digital da música: toda banda imagina sua música à venda no Itunes ou no Spotfy, ganhando dinheiro diariamente com as vendas, e a Motim Records mostra que isso é possível para bandas independentes, sim! O funcionamento do selo é basicamente este: ajudar na pré-produção  e produção (se necessário), cuidar da identidade visual do disco, fazer a distribuição (física ou digital) e tentar, de alguma maneira, fomentar a cultura independente da região, sempre divulgando e apoiando eventos locais e regionais.

 

CS: Com pouco mais de um ano de vida, já são cinco lançamentos, dentre eles uma coletânea. Conta pra gente sobre esses lançamentos, a produção e apoiadores envolvidos.

GT: Em junho de 2014 tivemos nosso primeiro lançamento: o EP Autocontrole, com 4 músicas da banda Meivorts. O disco foi gravado e mixado por Alexandre Chapola, em Jundiaí (SP). Para a arte deste disco, convidados o música e artista Bruno Consani (ex-guitarrista das bandas Cardiac e Golfo de Vizcaya). As ilustrações são do Bruno, e a arte-final é minha (textura, cores, diagramação, encarte).

 

CS: Ouça aqui as canções "Chega", "Autocontrole", "O que vai ser então" e "Preso na própria liberdade".

 

  

GT: O segundo lançamento foi em agosto, com o EP O Quarto onde não se perdem as canções, da dupla Melancolia Lettícia. O disco foi gravado e produzido por Diego Arruda, no Ateliê Musical Três Dias Depois. Toda a concepção da arte e diagramação foi feita por mim, após ter o aval da banda, que me deram liberdade criativa para fazer o que eu sentia e vivia naquele momento. Foi um trabalho muito compensador, pois conheço bem os irmãos (Diego e Thais) e sei que gostaram muito da arte, bem conceitual e que reflete o sentimento do disco. 

 

CS: Ouça aqui as canções "O coelho de Alice", "Em transe", "Vinte e um dias", "Olhar para trás", "Polka & café frio" e "Não reclame do que não quiser mudar". 

GT: Em dezembro tivemos um lançamento especial, até então nosso maior projeto: a Motim Records Volume 1, uma coletânea digital que contava com 20 bandas do interior de SP,­ entre elas alguns convidados especiais. Este projeto contava com o apoio do Quintal Gordo (sem dúvida, um dos melhores espaços para shows em Campinas, senão o melhor), da Sailor Skateboard, da Ponta Urbana (que organiza anualmente o Festival Ponta Urbana, em Valinhos) e do Café in Sônia, também um grande fomentador da cultura alternativa de Campinas. Para a arte da capa e contra-capa, convidamos o artista Daniel "ET", excelente ilustrador que tem em seu portifólio capas de disco (e camisetas!) de bandas como: Ratos de Porão, Dead Fish, Muzzarellas e Zumbis do Espaço.

CS: Ouça aqui, as 20 faixas da coletânea.

GT: Em janeiro lançamos o disco Pedaços de Carne, da banda Labataria (Campinas). A banda já tinha feito o lançamento do disco anteriormente, porém entramos com uma parceria, juntamente com a Sailor Skateboard e a Putrefa Records, para relançar em um novo formato, em tiragem de 1.000 unidades, com direito a um bônus especial: a demo "Labataria", lançada em 2009.

 

CS: Ouça aqui as canções "Punk que é punk, dá mosh de costas", "Terror 97A", "Papa", "Loira do banheiro", "Mordida de tubarão" e "Ode aos que não merecem". O disco tem participação especial de José Mojica Marins "Zé do Caixão".

GT: E nosso último lançamento, (no início de abril), foi o disco Melody Station, da banda Sallys Home (Jundiaí), em parceria com o selo Oba Records. Neste caso, toda a arte do disco ficou por conta da própria banda, e entramos mais com a parte de apoio na divulgação.

 

CS: Ouça aqui as canções "Melody seems like noise", "We never walk alone", "Rowing to Survive", "Hello", "Don't follow them", "Like a grey monday", "Rebel Burger", "Almost", "Summer Shit" e "Hope".

Banda Meivorts

Banda Meivorts

Duo Melancolia Letticia

Duo Melancolia Letticia

Banda La Bataria

Banda La Bataria

Banda Sallys Home

Banda Sallys Home

CS: De que forma os recursos para manter o selo são levantados?

GT: Na base do "faça-você-mesmo": dinheiro do próprio bolso, dividindo custos com a banda e com os apoiadores.

 

CS: Como é feita a divulgação do selo?

GT: A divulgação é feita principalmente pela internet, através do site, blog e página da Motim Records no facebook, e também através da distribuição de alguns materiais pelo correio, como a primeira edição do zine Erro404. A coletânea Motim Records Volume 1 ajudou bastante na divulgação, inclusive o disco entrou em uma lista de 100 melhores discos de 2014, feita por alguns blogs. As bandas da região tem abraçado a idéia e ajudam na divulgação também, assim como outros selos e blogs amigos.

 

CS: Com essa conquista, como está sendo a repercusão da coletânea?

GT: A repercussão tem sido muito boa, a coletânea teve uma excelente média de plays, todas as bandas compartilhando e a galera curtindo. Muitos blogs com o conteúdo voltado à música e à cultura independente abraçaram a idéia, divulgaram o link e ajudaram a divulgar o projeto. Fora que recebi algumas mensagens das bandas, agradecendo por participar do projeto e por terem a chance de conhecer outras bandas da região. Tenho certeza que muitas novas amizades surgirão, partindo desse projeto. O que vejo até o momento é que, aos poucos, vamos dando o espaço que as bandas da região merecem. Um projeto como esse, que tinha como objetivo unir as bandas e mostrar que existe, sim, música de qualidade aqui no interior de SP, tem funcionado muito bem, para o selo e para as bandas envolvidas.

 

A banda Meivorts, além de inaugurar o selo sendo o primeiro lançamento da Motim Records, também está presente na coletânea. Confira abaixo os caras em apresentação no evento Rock na Concha, realizado na Concha Acústica do Taquaral, em Campinas. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CS: Qual foi o critério para a escolha das bandas que compõem a coletânea? Qual o estilo dessas bandas?

GT: Foi uma escolha pessoal. Devo admitir que acabei escolhendo as bandas que tive mais contato no ano de 2014, ou que mais se destacaram, dando preferência, claro, as que tem o som autoral, que estão começando e tem pouco tempo de estrada. Fiquei antenado no que tava rolando na região e tenho a consciência de que muita banda bacana ficou de fora, tive que limitar o número de participantes em 20 bandas, senão ia ficar uma coletânea muito extensa e acho que o ouvinte perde o interesse. Evidente que as bandas que ficaram de fora estarão na próxima coletânea. Aos poucos vamos juntando e catalogando todas as bandas da região, é um trabalho árduo, como falei antes, tem muita banda legal, e todas merecem seu devido valor. Em relação ao estilo das bandas, existe uma diversidade de genêros: temos punk rock, hardcore, metal, crossover, trash, surf music, tivemos espaço até para o acústico (voz e violão). Apesar da diversidade, podemos falar que é uma coletânea de "rock".

 

CS: Como elas foram descobertas e como se deu a adesão delas ao projeto?

GT: A maioria é aqui do interior, então provavelmente eu assisti o show e gostei da banda, trocamos algumas mensagens, e todas as bandas curtiram a idéia logo de cara, todos toparam participar. Além disso, resolvi chamar alguns convidados especiais: F.Nick, que é um cara bem conhecido em todo o Brasil, pelo seu trabalho no FISTT e ObaShop/ObaRecords; o Horace Green, banda do Shamil, que também fez um trabalho bacana em 2014, criando o selo O Homem Coletivo. Tem também a banda Mar Morto, punk rock do litoral, vocal feminino gritado e rasgado, uma das bandas que mais gostei de ter conhecido ano passado, achei interessante ter eles nesta primeira coletânea. E a banda Angry Beavis, lá de Curitiba, que conheci no fim de 2013, pegada melódica, vocal feminino também.

 

 

 

 

CS: Como foi a escolha das músicas, houve uma gravação especial para a coletânea?

GT: Deixei a escolha das músicas para as próprias bandas definirem. Não houve nenhuma gravação especial para a compilação, mas tive o prazer de pegar aquela fase mágica: a maioria das bandas estava em estúdio em processo de composição ou gravação, então tivemos a sorte de ter alguns lançamentos já nesta coletânea. Foi assim com o Inesperado, que lançamos o som "Cotidiano", o Don Ramón, com a bela canção "Pancada Violenta" e os caras do Box47, que acabaram de entrar em um processo de gravação em home studio, nos presentearam com a música "A Terceira Lei". São músicas que ainda não foram lançadas, mas eles cederam o lançamento para coletânea.

 

 

GUI TRENTO: “EM VALINHOS, SE EXISTIU UMA CENA NO PASSADO, ELA ESTAVA MUITO FRAGMENTADA”. Confira no vídeo abaixo, porque o guitarrista tem esse pensamento sobre a cena independente na cidade, outros projetos artísticos que ele mantém, além de alguns detalhes revelados sobre as novidades, lançamentos do selo para esse e para o segundo semestre. 

CS: Em sua opinião, qual é a importância de projetos independentes que valorizam artistas da região?

GT: Quando falamos em "artistas independentes" ou "rock independente" no Brasil, estamos falando de contra-cultura. Existe pouco (ou quase nenhum) apoio dos grandes meios de comunicação para com os artistas independentes, não só da região, mas do país todo. Artista independente é na base da ideologia punk do "faça-você-mesmo", é o artista se desdobrando para conseguir mostrar a sua arte ou a sua música para o maior número possível de pessoas. Cabe ao artista e aos fomentadores de cultura (selos, zines, blogs, coletivos, etc) divulgar o seu trabalho. A idéia de valorizar artistas da região se dá por afinidade, por empatia, por conhecimento de causa, de saber que existem outros artistas próximos que podem lutar pela mesma causa: fomentar a cultura independente em uma determinada região.

 

CS: E quais são as possibilidades que você enxerga dentro desse contexto?

GT: Existem muitos projetos e espaços que valorizam a cultura independente, não só a música, mas também artes plásticas, teatro, cinema, etc. Existe um anseio social e uma demanda por cultura de qualidade, coisa que nem sempre a grande mídia nos entrega. Basta escutar a rádio, 15 minutos no carro, e ver o que está tocando: música genérica e pasteurizada. Na televisão não é diferente. A possibilidade que vejo é que existe, sim, uma forma de entregar um material de qualidade para um grande público que está disposto a consumir cultura em sua mais variada forma.

 

 

Curtiu esse projeto que visa valorizar bandas independentes? Aproveite para deixar nos comentários a sua opinião sobre como anda a cena em sua cidade ou região. Além disso, compartilhe com a gente através de e-mail algum material seu ou da sua banda que você considera bacana, como áudios, vídeos ou fotos de apresentações ou participações em projetos interessantes que acontecem aí onde você mora.

 

Conheça mais sobre a Motim Records e os produtos do selo em:

Blog: http://motimdistro.blogspot.com.br/

Facebook Motim Records: https://www.facebook.com/motimrecords

Bandcamp Motim Records: https://motimrecords.bandcamp.com/

YouTube: https://www.youtube.com/channel/UCcp-EkurRF7GLHEYd8OAN5w

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